Uso de animais nas pesquisas – Redação do enem

Este texto é um exemplo de redação sobre um tema que já foi usado na Fuvest. Vocês podem ler como forma de estudar para a prova de redação também do Enem.

Exemplo de redação

Animais na ciência: avanços e controvérsias

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O uso de animais em experimentação científica tem sido de grande utilidade na construção do conhecimento humano em áreas tão distintas que vão desde o estudo da eletricidade (quando o italiano Alessandro Volta conduziu seus experimentos sobre este tema utilizando rãs) até os óbvios avanços em medicina e outras áreas da saúde. Há, contudo, grande resistência ao uso de animais em pesquisas científicas, oriunda de movimentos organizados em defesa dos animais e de políticos ligados a estes movimentos. Entretanto grande parte destes ativistas baseia-se em percepções confusas, chegando a comparar o uso de animais em pesquisas cientificas com o abuso sofrido por estes em rinhas, circos e vaquejadas. Há ainda quem diga, talvez por ignorância, que vacinas e fármacos novos não foram os principais responsáveis pelo declínio de doenças infecciosas, e há aqueles que, ingenuamente, defendem ferrenhamente determinadas espécies animais baseando-se em um conceito antropocentrista, admitindo ao mesmo tempo que outras espécies sejam maltratadas ou até exterminadas.
O primeiro equívoco a ser desfeito diz respeito à comparação estabelecida entre experimentos que utilizam animais, e os abusos praticados em rinhas, circos e vaquejadas. Nos experimentos sacrificam-se animais no intuito de descobrir novas soluções para lidar com enfermidades que afligem a humanidade. No caso de rinhas, circos, vaquejadas e afins, os animais são utilizados para "entreter" os espectadores em demonstrações de crueldade e sadismo sem nenhuma utilidade potencial que se justifique. É interessante perceber esta contradição no projeto de lei do vereador da cidade do Rio de Janeiro, Cláudio Cavalcanti, que proíbe o uso de animais em experimentos científicos. A lei ameaça a produção de vacinas (distribuídas nacionalmente) pela Fio-cruz, que utiliza camundongos para testá-las, como se estes testes fossem tão inúteis ou imorais como o sacrifício de animais em rinhas ou em rituais de umbanda.
Também outros argumentos infundados têm sido utilizados por ativistas contrários ao uso de animais em experimentos científicos, ao alegar que o produto final destas pesquisas, as novas vacinas e novos medicamentos, não são responsáveis pelo declínio de doenças infecciosas e, portanto, da mortalidade infantil. Para estes ativistas melhorias em questões como saneamento, higiene e alimentação seriam os fatores responsáveis para o decréscimo da mortalidade infantil. Embora seja verdade que saneamento, higiene e alimentação sejam importantes para a saúde geral de um indivíduo, a realidade é que os habitantes das favelas brasileiras não dispõem de serviços adequados em nenhum destes três quesitos e, ainda assim, a poliomielite é uma doença praticamente erradicada do território brasileiro, e graças a que?Graças a uma vacina. Mortes de crianças por difteria, tétano, sarampo, caxumba, rubéola e meningite são cada vez menos frequentes, graças às vacinas. Não apenas as crianças, mas também soropositivos e idosos são beneficiados por coquetéis e vacinas anti-gripais, que os protegem contra doenças oportunistas. É possível, entretanto, que argumentos tão infundados sejam proferidos não por ignorância, mas por doutrinamento ou radicalismos.
Porém, o mais ingénuo dos argumentos em "defesa" dos animais talvez seja aquele que, baseado em uma ática antropocentrista, pretende defender seres vivos que se assemelhariam mais aos humanos segundo determinados critérios, contudo não dispensam compaixão a outros seres vivos como, apenas como exemplo, outros animais, vegetais, parasitas mu/f/ e unicelulares, protozoários e bactérias. Uma vez que são todos seres vivos, qualquer critério antropocentrista seria arbitrário e enviesado.
Concluindo, os avanços decorrentes do uso de animais na ciência são inquestionáveis, e órgãos regulamentadores como o recém criado Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) devem atuar no sentido de permitir experimentos científicos que utilizem animais com o intuito de alcançar inovações e melhorias importantes para a vida em geral.

(Fonte: Unicamp)

Análise da redação

NA DISSERTAÇÃO, considerada acima da média pelos examinadores, observa-se um bom trabalho com o recorte temático e uma clara articulação com a coletânea, que foi muito bem aproveitada. Acompanhe como foi desenvolvida a redação:

PRIMEIRO PARÁGRAFO: partindo da constatação histórica de que o uso dos animais em experimentação é importante para um largo espectro de aplicações (em que se inclui um interessante exemplo, pouco citado, do mundo da física), o candidato expõe três argumentos em prol da proibição das experiências com animais e que pretende rebater nos parágrafos seguintes: a comparação do uso do animal na ciência ao uso de entretenimento ou sem fins práticos e utilitários, a negação de que o uso dos animais em experimentação teria sido um dos principais fatores de avanço na cura de doenças e diminuição da mortalidade humana e uma visão antropocentrista que estimula a defesa de determinados animais.

SEGUNDO PARÁGRAFO: rebate o primeiro argumento citado no parágrafo anterior. Defende que é um equívoco comparar o uso do animal na ciência ao abuso de animais com objetivo de entretenimento. Seu principal argumento é que a finalidade do sacrifício em laboratório é útil para a cura de doenças e o bem-estar do ser humano. Cita como exemplo de comparação equivocada a lei municipal que proíbe experiências com animais, idealizada peto vereador Cláudio Cavalcanti. É preciso observar que o candidato alude ao sacrifício de animais em "rituais de umbanda". 0 exemplo foi equivocado, pois a umbanda não sacrifica animais em seus rituais. Essa é uma característica de outra religião, também de raízes africanas, o candomblé. Mas a banca pareceu desconsiderar esse fato na avaliação. A banca examinadora deve ter entendido essa informação como um equívoco que não chegou a prejudicara argumentação.

TERCEIRO PARÁGRAFO: o candidato rebate o segundo argumento apresentado no primeiro parágrafo. Afirma que não há fundamento em dizer que as experiências com animais têm importância superestimada pela sociedade e cita como exemplo diversas doenças que puderam ser controladas com a criação de vacinas. Não deixa, porém, de fazer uma ressalva de que a melhora das condições de vida também é importante para o controle de doenças.

QUARTO PARÁGRAFO: é desenvolvido o terceiro argumento citado no primeiro parágrafo.'0 candidato classifica como ingénua a visão antropocentrista, que impele os defensores dos animais a se manifestar contra agressões a animais cujas características se aproximam mais das humanas.

QUINTO PARÁGRAFO: a conclusão do texto é coerente com o ponto de vista que o candidato demonstrou ao longo de todo o texto: "os avanços decorrentes do uso de animais na ciência são inquestionáveis". Sua proposta é que órgãos regulamentadores atuem para controlar e continuaras experiências.

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